Por Terence Reis, sócio-diretor de operações da Pontomobi Interactive e membro do comitê de mobile do IAB Brasil
670 milhões de assinantes 3G no mundo – com uma taxa de crescimento anual de 37%. No Brasil essa taxa é de 148% – são 13,3 milhões de assinantes (8% de penetração, metade da média mundial).
Dentro de dois anos o principal meio de acesso à internet serão os smartphones – que estarão serão vendidos em maior volume que PCs.
O iPhone precisou de apenas três anos para atingir 100 milhões de usuários, um crescimento cinco vezes mais rápido que o Netscape e dez vezes mais rápido que a AOL, símbolos do boom da internet. O Android precisou de apenas dois anos.
E, enquanto isso, no Japão, o acesso à internet móvel já é maior que o acesso à internet “fixa”. Sua maior rede social, Mixi, tem 84% de seus acessos provenientes do celular. São 120 milhões de usuários mobile ativos no Facebook – e duas vezes mais ativos que o usuário não-mobile.
Esses números provêm do último relatório “State of The Web 2010”, produzido pelo Morgan Stanley. Mas temos evidências mais anedóticas.
Em alguns sites móveis que monitoramos, a audiência triplicou nos últimos seis meses, com o maior crescimento acontecendo após a reorientação das operadoras em torno de smartphones e do acesso à internet móvel, com promoções.
Sobre as promoções, passei por um shopping ontem e resolvi verificar a vitrine das lojas das operadoras. Faço isso com alguma sazonalidade – em geral entro e observo o que estão comprando – afinal, o que está na vitrine estará nas mãos dos consumidores e o que está nas mãos destes deve(ria) orientar o que fazemos.
Em uma loja, dos 30 aparelhos em exposição, mais de 60% são smartphones – por até R$ 10,00. A proporção – e os preços se repetem.
Para as operadoras é bom – discussão sobre preços à parte. A simples adoção do smartphone pelo usuário representa um acréscimo na receita média mensal por usuário de até € 10 (dados Europa).
O primeiro resultado disso, você já leu e escutou várias vezes – que as marcas já deveriam estar presentes no celular. Alguém imaginaria não ter um site em 2005? Pois em 2005 tínhamos o mesmo número de internautas que temos hoje acessando a web móvel.
Mas este não é meu ponto principal. O que quero dizer é o seguinte:
Mobile is dead, baby.
E, com ele, seus antigos donos. Mas deixa eu ser menos irresponsável – quem está em perigo é o ecossistema em torno do qual o mercado mobile se estruturou.
A cada nova evolução – e a lei de Moore persiste – da capacidade de processamento, da velocidade e capacidade de banda, esse ecossistema, construído em torno da propriedade do acesso (operadoras) e do hardware (fabricantes), perde mais força.
Três indicadores:
Nem smart, nem dumb pipe.
Operadoras se tornam pipes – e pronto. Se você tem um smartphone mais esperto que você mesmo, conectado a uma nuvem onde está todo seu cotidiano, qual a diferença que faz uma rede ser mais “esperta” ou não?
A única variável que passa a interessar no relacionamento com operadoras se torna o preço. E produtos cujo diferencial é o preço sabemos como são chamados.
Muda o eixo de relacionamento com o consumidor
Ainda há muitos que compram seus smartphones por considerações do hardware. Qualidade do sinal, câmera de XMp, radio FM etc.
Mas o fato é que nada disso gera lock-in. Certamente não o acesso à rede, com a portabilidade. Muito menos os recursos replicáveis, como bluetooth, câmera, mp3 player.
O lock-in acontece do lado do servidor. São os aplicativos. As músicas no iTunes. O e-mail e o BBM. A integração com os serviços do Google. O xBox 360. Minha central de games.
Eu dificilmente mudo de aparelho se estou “trancado” em uma série de serviços que para mim são essenciais.
A capacidade de processamento e a evolução do acesso transferiram o eixo de decisão do consumidor de variáveis como preço e recursos de hardware para os serviços, abrindo espaço para players como Google, Apple, Microsoft, provedores de conteúdo e serviços.
O meu eixo de decisão se torna semelhante ao que pratico hoje na internet.
Esta transferência de poder leva a outro ponto: internet = mobile + web.
Mobile começa a definir mal o que fazemos. É cada vez mais uma distinção que limita o que podemos e devemos fazer.
O conceito de mobile precisa se desprender do vínculo ao canal ou ao aparelho e abranger um estado do usuário. Estado esse que tende a ser o mais frequente. Os smart-phones são devices únicos, pois conseguimos com eles estar online e offline ao mesmo tempo. Quanto sentido tem a pergunta “quantas horas do dia você passa online” para quem tem um smartphone?
Então mobile se torna uma rede, de aparelhos e coisas conectadas. Em vez de um subset da internet, mobile se torna parte inseparável do funcionamento da rede, condição essencial em um mundo conectado.
Quando isso acontecer, deixa de fazer sentido trabalharmos – já não faz sentido – com uma distinção limitadora, entre internet e mobile.
E o meu ponto final é justamente este: a internet é uma só e em determinados momentos ela se move. As barreiras e problemas de um ecossistema que travava o desenvolvimento do mercado dão lugar a um novo formato, onde mobile e digital se integram como catalisadores de uma convergência maior, a dos mundos real e virtual, mudando a cara e o modo como nos comunicamos e fazemos negócios.
É um bom raciocínio – e eu concordo com boa parte dele – só sou obrigado a discordar de uma coisa: essa paridade no eixo de decisão não significa que internet = mobile + web.
Como John Pettengill, designer de interação da Razorfish, já apontou há um tempo: o fato é que as características intrínsecas aos dispositivos móveis imprimem na internet utilizações distintas àquelas que existem nos computadores. Desta forma, o avanço e amadurecimento do ambiente mobile não irão eliminar a “distinção limitadora, entre internet e mobile” como Terence coloca, pois este ambiente possui características particulares, que devem ser exploradas de formas distintas.
Eu discorri mais sobre a questão em um post no meu próprio blog, se estiver interessado, acesse: http://www.intermidias.com.br/2010/12/internet-mobile-web/
Posted by: Ian Castro | 06 dezembro 2010 at 15:46
Só faço um comentário quando vc pergunta qual diferença faz uma rede ser mais "esperta" que a outra: tarifação faz essa diferença. A gente sabe que por enquanto a tarifação na operadora ainda é mais eficaz do que outros meios como o cartão de crédito do iTunes. Então uma rede que possa oferecer variedade na forma de tarifação ainda, por enquanto, é o que pode diferenciar e atrair serviços que outras redes menos elaboradas talvez não possam oferecer. Não sei se ainda existe alguma restrição regulatória, mas para mim é talvez o único ponto em que as operadoras podem se agarrar para não perderem o trem. Senão vai tudo para cartão, NFC e outros meios que ainda vão aparecer.
Posted by: Paco Torras | 23 novembro 2010 at 18:02